Na semana passada participei de uma reunião com o Senhor Fernando Haddad, digníssimo prefeito da cidade de São Paulo. Tratava-se de um encontro daquela autoridade e mais dois de seus Secretários com chefes dos órgão públicos da região, para tomar pé da situação, conhecer mais a miúde os problemas e discutir oportunidades para o bairro do Itaim Paulista.
Também estavam presentes a Subprefeita, os diretores de educação, saúde, CET, além de outros servidores que fazem parte do governo local.
Achei nobre, inovadora e meritória a atitude da mais alta autoridade municipal em encurtar as distâncias entre ele e seus funcionários, entre ele e a região.
Nesses meus pouco mais de 15 anos de trabalho na prefeitura foi a primeira vez que tive a oportunidade de falar diretamente com um prefeito e à ele poder mostrar um pouco do nosso trabalho, opinar em assuntos relevantes, gozado de alguns minutos da sua atenção e, o principal, ter sido ouvido.
Ao que parece essa tendência vem aumentando gradativamente e será bastante salutar para garantir o sucesso da administração desse prefeito.
Recentemente tivemos também uma reunião de prestação de contas em que o Comandante Geral da GCM-SP, Inspetor Gilson Menezes, compareceu perante a categoria para contar sobre o trabalho que vem desenvolvendo, as perspectivas para a instituição e ouvir um pouco da contribuição do público presente. Nesse encontrou foi disponibilizado um canal eletrônico para se estabelecer a melhor comunicação entre o comando e os comandados. Trata-se de uma boa iniciativa a qual esperamos que tenha sucesso.
Venho de um tempo onde nós servidores falávamos, quando muito, com o chefe imediato. Entre 2005 até 2008 tivemos a possibilidade de acessar conversas diretas com o Comando Geral da GCM na figura do Coronel Rubens Casado – Isso como Inspetor – não sei falar sobre a postura dele em tratar diretamente com graduados ou guardas.
A partir de 2009 até o final de 2012, sem perder o direito de conversar constantemente com o então Comandante Geral Joel Malta de Sá, conquistamos ainda o privilégio de fazer tratativas constantes com o então Secretário Municipal de Segurança Urbana, enquanto que o máximo que se conseguia do prefeito Gilberto Kassab era um singelo aperto de mão em solenidades.
Um Secretário Municipal é a penúltima instância do Poder Público. Depois dele vem o prefeito. Assim, vejo como bastante produtiva a ação consistente no fato das mais altas autoridades transitarem entre todos os tipos de trabalhadores. A mim tal atitude soa como real preocupação com a cidade e com a qualidade do trabalho que a instituição está oferecendo à ela.
Lembro-me que na gestão passada o então Secretário de Segurança Urbana, Edson Ortega, quando se propunha a tratar de questões técnicas voltadas ao aperfeiçoamento do trabalho, ouvia relatos que vinham do Comando Geral, de Inspetores, de graduados e de guardas. Ouvia também as entidades representativas da categoria. Muitas das vezes a boa ideia ou a solução de um problema estava nas mãos daquele que lidava diretamente com a dificuldade, e assim algumas delas foram transpostas e muitos dos problemas foram resolvidos por meio desse tipo abertura.
Ouvir ideias não significa que obrigatoriamente tenhamos que acolhe-las ou implantá-las. Às vezes elas são úteis e prosperam outras vezes não. O importante é reconhecer que houve o debate e a construção de um ambiente democrático.
Por vezes, no processo de tratativas dos casos mais complexos, acredito que ao colocar mediadores entre você e o operador das ações que a instituição desenvolve abre-se a oportunidades para o risco de se perder grande parte da contribuição que poderia ser colhida com o encurtamento da distância. No caminho que a mensagem tende a percorrer sempre entram os ruídos, que podem se configurar com a perda de detalhes importantes, a perda da oportunidade de se fazer perguntas fundamentais diretamente ao autor da ideia; corre-se o risco de sofrer a alterações do conteúdo por causa de interpretações equivocada de quem recebeu a primeira informação; e até prejuízos resultantes de omissão na informação por conta de haverem questões subjetivas como vaidades, desídia ou interesses pessoais do mediador que conflitem com a forma de trabalho do autor das ideias.
Eu acredito que tiramos maior proveito de uma ideia quando vamos bebe-la na fonte. Sempre optei por modelos de gestão que diminuem as distâncias. Não compactuo com colegas que defendem a hierarquia rígida, daquelas que recomendam que o guarda civil jamais tenha acesso ao Comandante da unidade. Daquelas que recomendam que o guarda discuta seus problemas com o graduado, e este com o Inspetor assistente que levará o caso àquele que vai deliberar - no caso de uma inspetoria, o Comandante Regional.
Em uma gestão transparente dotada de bons administradores não há por que recear que o brilho de um simples colaborador possa ofuscar a imagem daquele que detém o posto mais alto na hierarquia. Não há razões para esconder um bom talento. Não há razões para ter medo do conteúdo das informações que seu subordinado pode levar ao seu superior. E em um ambiente de confiança não se faz necessária a sua presença nesse possível encontro de trabalho entre seu subordinado e seu chefe - até mesmo para evitar qualquer tipo de censura, ainda que velada, feitas às vezes com simples olhares de reprovação (em um passado distante, em outra gestão, de um outro governo, já fui censurado dessa forma e não desejo que ninguém passe por coisa parecida).
Compete a quem recebe as informações filtrá-las, avaliar a importância do seu conteúdo e, dentro do que seja ético e funcional, compartilhá-las com a rede de trabalho fixada na instituição. Se o objetivo institucional é crescer e evoluir, não há razões que justifiquem o alijamento de pessoas que podem contribuir com esse processo.
As coisas funcionam bem melhor quando deixamos as portas abertas ou os espaços livres ao diálogos. Vejo como salutar um ambiente em que nem todos concordem com o que penso, visto que nem sempre posso estar correto, e que nem sempre as críticas consistem na negação integral da proposta, porque, podem elas também contribuir para o aperfeiçoamento dos trabalhos que desenvolvo.
Assim, prefiro sempre encurtar as distâncias, seja em tratativas frente à frente, seja com telefonemas, seja por meios eletrônicos, redes sociais ou qualquer outra forma; sempre tomando o cuidado necessário para não transformar essa liberdade profissional em veículo destrutivo, repudiando sempre aqueles que maculam reputações de outro profissionais. Como gestor devo sempre ouvir o que um colaborador tem a dizer, e se a informação traz um fato que envolve outro profissional, devo ouvir com reservas e dar a oportunidade de que o outro de quem se fala também seja ouvido, com a mesma liberdade e veículo que facultei à primeira parte, sempre tendo responsabilidade com o que ouço, bem como, com o que vai ser feita da informação e, dentro do possível, sempre promover a composição e a conciliação – quero aqui deixar claro que repudio ações que fomentam a propagação de “fofocas”, “bizus” e boatarias maléficas no ambiente de trabalho.
Parece que estamos no caminho certo. Contudo, muito ainda há que ser feito para encurtar distâncias. Muitas das boas contribuições ainda podem estar sendo perdidas e pode ser que ainda existam más informações ganhando terreno no processo destrutivo. Prefiro ser otimista e acreditar nas propostas do Comando Geral da Guardas Civil Metropolitana de que cada vez mais o acesso ao debate será facilitado, cada vez mais avançaremos na conquista de melhorias, e cada vez menos daremos importâncias para boatos maléficos que visam assassinar reputações ou desestimular o trabalho.