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terça-feira, 18 de março de 2014

Qual é a sua obra? – Uma reflexão sofre a ideia de Mario Sergio Cortella.



Antes de começar, peço-lhe permissão para narrar uma observação que fiz de uma situação verídica e recente:

Hoje eu devo ter presenciado uma das cenas mais tristes e marcantes que a minha vivência permitiu.

Vi um pai com seus dois filhos pequenos - um menininho e uma menininha - despedindo-se do corpo daquela que era esposa e mãe.

De certo vemos muitas atrocidades e desastres na televisão e até diante dos olhos – já perdi amigos por doença, acidente e homicídio.

Não que ele ou as crianças estivessem chorando – não estavam naquele momento. Não que expressassem nitidamente a dor da perda – não expressavam. O que me tocou foi a simbologia daquele ato. Um olhar inocente dos filhos sobre um corpo sem vida, e um olhar sem ação de um pai sobre as crianças que acabavam de ficar sem a mãe.

O momento me levou a uma reflexão diferente. Nenhum pensamento com palavras, mas com o sentir. Transcendemos na nossa evolução com aprendizado, com pensamentos, com vivência, mas eu nunca havia mudado de estado de espírito a partir de uma imagem. Uma imagem forte, capaz de penetrar em um campo da mente onde os mais profundos ensinamentos não conseguem.

Já havia participado de muitas solenidades de despedida daqueles que um dia viveram entre nós, mas poucos, ou só o de hoje, me incutiu uma inclinação ao respeito pela vida.

Muitos podem até pensar que por conta deste relato eu nada tenho passado de experiências significativas no alto dos meus pouco mais de quarenta anos. Estariam eles parcialmente corretos? Pode ser! Passei sim, por muitas. Só que eu passei por elas, mas elas não passaram por mim, porque, talvez, me faltou amadurecimento para absorver a mensagem mais importante daqueles momentos do passado.

Não foi necessário um choque ou uma dor insuportável para me fazer ver o quanto precisamos contemplar a existência e nos curvar ao que é simples.

Desejo àquela família a necessária compreensão para superar esse desvio de planos, desejo que aprendam a conviver com a ausência e a não perder, ou melhor, não deixar passar despercebidos os momentos que ainda terão para serem felizes.

Agradeço a eles, porque, aprendi na despedida o quanto é importante darmos valor à simplicidade, e ser feliz demais com o fato de poder voltar para casa após cada dia de sujeição à vontade incerta da natureza que nos rege.

Narrei a história acima para chamar a sua atenção ao começo, meio e fim de sua vida e o que ela representa – sendo o primeiro previsto por seus pais, o segundo por você, e o último, quase sempre uma indefinição.

Plagiando a pergunta do ilustre filosofo Mario Sergio Cortella – Qual é a sua obra? E trazendo à baila uma das suas constantes afirmações: “Você vai morrer!” Começo com você leitor um diálogo a respeito de sua caminhada por este mundo e, com um pouco de ousadia, lhe fazendo uma proposta:

Não deixe que a sua passagem pela vida seja estéril!

E vou além, não deixe que sua grande obra seja um ato de vaidade, de egoísmo, de autodestruição ou de dano ao próximo.

Pergunto novamente:

Qual é a sua grande obra?

Plantar a discórdia? Assassinar uma reputação? Difamar alguém? Ser um bom articulador para uma causa de um projeto de poder? Se auto-indicar para receber um milhão de homenagens? Posar para fotos com a sua linda fantasia de Batman? Conseguir agregar aos seus vencimentos todas as verbas e benefícios existentes em seu trabalho? Presidir uma associação ou entidade que não produz? Puxar o tapete do próximo para tomar o lugar que ele ocupa? Puxar o saco ou viver à sombra de alguém? Saber aplicar corretamente uma punição? Humilhar um subordinado? Se autopromover para nada? Formular uma construção jurídica absurda para fundamentar a decisão de punir um amigo? Cultuar um time de futebol? Angariar adeptos para a sua ideologia fanática? Fazer uma denúncia anônima? Trair a confiança de um colega? Enganar o sistema? Forjar uma doença para se afastar do serviço? Criar intermináveis reuniões para discutir o óbvio? Sabotar planos? Construir a sua felicidade à custa da infelicidade alheia?


Acredito que não! Acredito que você leitor seja bem melhor que isso!

Acredito que sendo um interessado em temas informativos, a exemplo dos artigos publicados aqui e em tantos outros blogs, você esteja se aprimorando – e é o que você está fazendo neste momento. E ao se aprimorar libertará a sua mente, encontrará razões mais que importantes para viver dignamente, sendo útil para si, para sua família e para a sociedade.

Quem é você e qual é a sua importância em meio a um mundo com bilhões e bilhões de pessoas? Isso é muito relativo! Para um estranho você pode não ser nada, mas em seu trabalho ou em sua familiar “pode ser” que seja alguém especial.

É preciso sair da mediocridade, e o caminho está na cultura. É preciso fazer com que a vida valha à pena. Temos as ferramentas, temos a disposição e temos a oportunidade.

Não deixe se conduzir por causas ignóbeis, por ideologias fracassadas ou por caminhos obscuros. Faça você mesmo a sua trilha. Conduza! Avalie até que ponto você não é escravo de suas criações irreais - e da dos outros!

Aproveite enquanto há tempo! Faça a sua obra!

Encerro aqui com outra frase muito antiga e bastante atual, que por sinal se escrevia em latim, nos tempos do já extinto Império Romano

“Sic transit gloria mundi”  (que em uma tradução bem simplista significa – as glórias do mundo são passageiras).