Iniciei com esse amigo um debate.
Perguntei: Se eu entendi bem,
você quer que com o dinheiro do meu trabalho eu custeie suas atividades
esportivas? Ele respondeu que sim.
Perguntei: Isso quer dizer que
enquanto eu trabalho sentado em uma mesa, ou em pé, durante oito ou nove horas,
você ficará praticando atividades físicas, condicionando o seu físico, se
alimentando com as melhores proteínas e vitaminas existentes no mercado e
cuidando da sua saúde melhor que eu posso cuidar da minha? Ele respondeu que
era mais ou menos isso, mas que não era bem assim... (?)
Perguntei novamente: E o que eu
ganho em troca de lhe proporcionar uma vida exclusiva de treinamento e,
digamos, enquanto a minha continuará sedentária? Ele respondeu que eu teria
minha recompensa com um possível título, um troféu ou uma medalha que ele
viesse a ganhar.
Eu ainda lhe disse que empresas
que promovem o esporte sempre esperam, em última instância, um retorno
financeiro advindo da propaganda que o atleta fez da sua marca, e as
conseqüentes vendas. Ele alegou que o título, a medalha, teria um valor
simbólico, e que ele poderia se tornar um grande atleta muito famoso.
Eu respondi que no momento não
estou podendo me dar ao luxo de viver para coisas simbólicas. Que me alimento
de comida, que durmo em uma cama, que moro em uma casa, que me visto de roupas,
que me banho com água e sabão, que tudo isso tem um custo na minha vida, e que
um título de campeão ou uma medalha não pagariam as minhas contas, mas, quando
muito, as dele.
Já vimos muitos fanáticos pelo
mundo idolatrando e patrocinando atletas que jamais viram de perto. O atleta
enriquece, fica famoso, ganha condicionamento físico, saúde, e a nossa vida
continua sempre igual ou, em alguns casos de fanatismo, pior. O mesmo serve
para times, seleções e clubes.
Há uma propaganda apelativa
focada na colonização de nossas mentes visando nos tornar idólatras, fanáticos
financiadores do comércio esportivo.
O esporte de competição também se
tornou um consumismo. Quem aqui se lembra quem foi o campeão do ano passado? E
do retrasado? O título, uma medalha, até o atleta, para mim é uma coisa
virtual. Não faz parte da minha realidade. Pode até trazer uma falsa alegria
para alguns, volátil, efêmera, mas não traz nada de útil para a realidade.
Eu não tenho que custear isso!
Certa vez eu vi uma postagem em
rede social de um grande e respeitado amigo do trabalho, na qual ele chamava os
Estados Unidos de Império (Capitalista) e cultuava Cuba, talvez pelo regime de
governo, mostrando até uma inclinação um pouco esquerdista – até ai nada de
errado. No entanto esse meu amigo se veste com o uniforme, com a marca do seu
“time do coração” dos pés à cabeça, de segunda a segunda. Vai ao estádio, viaja
para acompanhar o time e até faz parte do clube. E o engraçado é que as grandes
marcas que patrocinam aquele time quase todas são americanas. Só posso concluir
então, que ele patrocina o tal do “Império”.
No futebol, por exemplo, ganha o
jogador, ganha o treinador, ganha o clube, ganha a emissora de televisão, ganha
a marca que financiou o time; ganham os jornais que, em suas quase quarenta
páginas, vinte são dedicadas ao “esporte”, cinco dedicadas às mazelas da
política, e as quinze restantes ao sensacionalismo que brotas das catástrofes e
da violência que aumenta a cada dia.
E o patrocinador final, ou seja,
nós, o que ganhamos? Um troféu para ser visto de longe ou em uma tela de televisão?
O direito de fazer piadas e contar vantagens sobre os virtuais adversários pelo
período máximo de um ano? Não quero aqui
nem entrar no mérito das brigas de torcida. Um verdadeiro espetáculo de
violência para fomentar o fundamentalismo esportivo!
O apelo é tão forte que criam
ídolos, heróis, mitos, “reis”, os quais, depois, vêm fortalecer o time dos
colonizadores do nosso pensamento consumista – olhem a propaganda de
convencimento que um tal de Pelé está fazendo da Copa!!!
Quando eu ligo a televisão aberta
no domingo é deprimente. Cada emissora tem um programa voltado para o
fortalecimento do fanatismo do esporte. Criam mesas de debate para filosofar
sobre o passado, os lances imperdíveis; falar do que teria acontecido se aquela
bola não tivesse desviado da barreira, se o fulano tivesse acertado o chute;
falam dos milionários salários dos profissionais da área (nessa hora eu posso
comparar o expectador ao “leitor” - leitor? - que se deslumbra com as fotos da
revista “Caras”). Também aqui não vou entrar no mérito da possibilidade de que
os resultados sejam forjados, nem especular as manipulações que ocorrem para
garantir evidência aos times que trazem maior rentabilidade.
A propaganda, o apelo, é muito
forte! Quando menos se espera caímos na armadilha. Seja diretamente, comprando
o ingresso, seja indiretamente, comprando os produtos ou simplesmente gerando
audiência ao ligar a televisão. Eu evito comprar roupas ou tênis de marcas que
patrocinam esportes. O mesmo serve para objetos que levam o logo do time na sua
imagem. Acho que só não dá para ficar sem a cerveja (risos)!
A ilusão que o comércio esportivo
causa é tão grande que eu já vi pessoas sedentárias, obesas (nada contra
obesos) que batem no peito dizendo “eu gosto de esporte” ou “eu sou do esporte”,
enquanto que a única atividade esportiva que praticam é a de apertar o botão do
controle remoto da televisão, enquanto passam os domingos esparramados no sofá
(vamos fazer justiça vai: tem até uma segunda modalidade esportiva que esse
sedentário pratica, que é a modalidade “postar no facebook glórias ao seu time
quando vence e fazer piadas com os adversários”; ou ainda “reclamar do técnico,
sair em defesa do clube quando da derrota, lembrando todos os títulos que já
foram conquistados desde a criação do mundo”).
Então, fica a pergunta: O esporte é ruim? Eu
mesmo respondo! Não. O esporte é bom.
O problema é que o verdadeiro
significado do esporte se perdeu há muito tempo!!!
Eu até sou a favor do esporte,
mas desde que não seja uma ação voltada para competição e nem para o comércio.
Temos que praticar esporte sim, para ganhar condicionamento físico, saúde,
lazer, recreação, socialização. Gosto do futebol para unir amigos, brincar um
pouco, fazer um churrasco, comemorar etc. Mas, a partir do momento que alguém
surge se postando como gestor daquela atividade, fala em montar um campeonato,
pede uma ajuda para comprar medalhas, uniformes, e outras despesas, ai eu caio
fora, to fora, porque surgiu ai o princípio da degeneração da atividade
esportiva.
Nesse caso, ainda que possa gerar
algum custo, praticar o esporte de forma simples não é despesa, mas
investimento. Investimento em nós mesmo. Em se tratando de esporte, não invisto
no outro, invisto em mim e em minha família.
Minha filha pratica natação. Certa
vez o instrutor sugeriu inscrevê-la em competições. Achei
melhor não. Poderia sim inscrever, até com o escopo de instigá-la a vencer seus
próprios limites, mas o valor que me cobraram para isso talvez não compensasse
o retorno almejado, que não era a gloria ou o pódio, mas a superação de “si
mesma”. Optei por ela continuar a treinar, mas não incentivei a competição.
O mundo é competitivo? Sim. Mas
entendo que a competição no esporte não nos prepara para a competição do
mercado. Trabalhar e estudar sim. Deixemos então o esporte na categoria saúde,
lazer e recreação
Seria eu um reacionário ao pregar
a existência da simples pratica esportiva no lugar do culto ao esporte? Acho
que não!
Bom meus amigos leitores, esse
assunto vai longe... acho que já falei o bastante para um texto, para um
blog... que venham agora as criticas ao meu pensamento... rssss.